O aumento mundial na prevalência da obesidade nos últimos 30 anos tem chamado a atenção das autoridades de saúde principalmente na faixa etária pediátrica e adolescente, cujo risco para o desenvolvimento precoce de comorbidades é elevado. Dados do II National Health and Nutrition ExaminationSurvey (NHANES)(1976 a 1980 e 2003 a 2004) mostram que, em crianças americanas de 2 a 5 anos de idade, a prevalência de sobrepeso aumentou de 5% para 13,9%, e para a faixa etária de 6 a 11 anos, de 6,5% para 18,8%. Acima de 12 anos, a elevação foi de 5% para 17,4%.
No Brasil, nesse mesmo período, observou-se um fenômeno de transição nutricional. Houve declínio da desnutrição e do déficit estatural (efeito cumulativo do estresse nutricional sobre o crescimento esquelético) e emergência do sobrepeso e da obesidade com aumento de 112% da sua prevalência em adultos. Para crianças e adolescentes, houve aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9%.
A grande maioria dos casos de obesidade está relacionada com fatores poligênicos complexos em um ambiente que favorece a obesidade. Mais de 430 genes, marcadores e regiões cromossômicas já foram associados aos fenótipos da obesidade humana, embora os fatores sociais sejam preponderantes na gênese da obesidade. Algumas evidências demonstram essa associação:
· a obesidade da mãe, mesmo antes da gestação, correlaciona-se com o índice de massa corporal (IMC) da criança, na idade de 5 a 20 anos;
· há 75% de chance de crianças de 3 a 10 anos serem obesas se ambos os pais o forem e 25% a 50% se apenas um dos pais;
· 10% a 20% das crianças obesas assim permanecerão obesas na idade adulta;
· 40% das crianças com sobrepeso continuarão a ganhar peso na adolescência;
· 75% a 80% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos;
· a inatividade física está significativamente relacionada com a obesidade;
· o aleitamento materno é um fator de proteção.
A informação do peso ao nascer tem grande importância na avaliação do adolescente obeso, já que o baixo peso ao nascer está relacionado com o aumento do risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) na vida adulta, mesmo naquelas com Índice de Massa Corporal (IMC) normal.
A idade de início do ganho de peso é um preditor de risco de obesidade. O aumento precoce e importante de peso antes dos 5,5 anos de idade foi associado a rápida elevação do IMC e aumenta o risco de obesidade na vida adulta.
A obesidade é responsável por agravos à saúde da criança e do adolescente precocemente, aumentando os fatores de risco associados à DCV, como hipertensão arterial (HA), dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Os fatores de risco são mais prevalentes quanto maior o grau de obesidade e fortemente associados à história familiar. O DM2, classicamente de ocorrência na vida adulta, tem se manifestado cada vez mais precocemente. Até 1995 correspondia a menos de 5% dos casos de DM abaixo de 20 anos de idade; atualmente ocorre em até 20% dessa faixa etária e, segundo alguns autores, com prevalência aumentada em hispânicos, indígenas, afro-americanos e descendentes asiáticos. A deposição de gordura abdominal, assim como em adultos, reflete um aumento da gordura visceral que está relacionada com a resistência insulínica, que aumenta o risco de outras alterações metabólicas.
O termo síndrome metabólica (SM) é utilizado para denominar um conjunto de fatores de risco para DCV e DM2 em um mesmo indivíduo. Os critérios utilizados para o diagnóstico de SM em crianças e adolescentes ainda não estão bem definidos. O critério atualmente utilizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é o recomendado pela International Diabetes Federation (IDF), que dividiu os critérios de SM em grupos de acordo com a idade. São considerados com SM aqueles que apresentarem três ou mais critérios.
Veja abaixo:
Fonte: Revista Adolescência e Saúde - Vol. 7 nº 1 - Jan/Fev/Mar de 2010